A chuva que não passa molha dentro, apequenada em sua inquebrantável solidão habitual; ouve o seco gotejo na panela. Mordem acanhados, amarelecidos, os poucos cacos que seguram a dentadura rasgam o trigo e a mortadela. Três ou nove pelo céu não se sabia. Inda sonolenta cumpriu a rotina; cuspiu a água suja no ralo, costumava lavar a boca depois da primeira refeição.
Próxima parada um cigarro no sofá, entre as pernas um travesseiro, fumou. Varava-lhe o vento frio, indicador, médio, anelar... Com certo nojo dos dedos, lavou-os na água dos pratos. Verde e carcomida era a bacia onde boiavam os restos, verdes eram as moscas, o cabo dos talheres, o duralex.
Cama, mesa, sofá, banheiro... Lentamente, um após o outro, passinhos. Ninguém. Não mais chovia. Na calçada, sentada como em todo fim de tarde sorri a chapa dupla.
Diadorim Sant'ana
Diadorim Sant'ana
2 Comentarios:
Cara... voce tem talento!
(Jadenice)
NOSSA!Interessante!
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"Nunca houve no mundo duas opiniões iguais, nem dois fios de cabelo ou grãos. A qualidade mais universal é a diversidade." (Michel de Montaigne)
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