Pensamento de Morte

Andei pensando muito sobre a morte. Talvez, seja conseqüência das leituras de Baudelaire, nunca gostei de leituras góticas, fúnebres, mas, ultimamente tenho me achado bem ao adorar a morte. Deve ser mais um desejo, ou uma forma de atrair, se eu pensar muito nela, talvez venha logo, me leve, me tire desse ninho de cobras.

Eu fico pensando como seria, se eu estivesse morta agora, aqui na minha cama. Meu irmão tentaria me acordar e quando constatasse a ausência de vida, ligaria pro meu pai:

- Pai, Isabela se matou e não fez meu almoço.

Meu pai ligaria pra minha mãe:

- A preguiçosa idiota se matou pra não fazer o almoço! O que Túlio vai comer?

Ao que minha mãe responderia:

- Isabela se matou e tu tás preocupado com o que Túlio vai comer? Já pensou o que os outros vão falar/pensar de nós?

E assim seria... eu ficaria deitada aqui até meu irmão almoçar, inventariam uma desculpa emocionante, só então, começariam a providenciar meu velório.

Uma coisa me detém de cometer tal ato: uma sementinha de esperança que me surgiu verde, luminosa e suave como uma peça de Bach que, também, às vezes, causa uma tristeza. Mas o vento leva meu pólen de esperança verde-luminosa-suave-e-triste-como-uma-peça-Bachiana. E ele some.

Isabela Cabral