O ser que disse não

            X acabara de saber que está grávida, não sabia como, pois, negava a incontestável possibilidade da gravidez, mesmo possuindo inúmeros parceiro sem nome nem rosto. Um bom sexo nunca era negado, aliais nada era negado por ela, embora, muitas vezes, fosse negada, por um ou dois parceiros numa mesma noite.

            X pensava no empecilho, que seria a barriga grande: – Meu Deus, quem me desejara agora. Agora um bom homem me negara, e estarei eu na sarjeta? – Apesar da aparente futilidade e falta de inteligência que lhe era atribuída, X se colocava muito bem nas palavras na hora do desespero (nada como o desespero para desenrolar até a nossa língua.). Enfim, X aproveitou a falta de desejo, a sensação de ter um aliem no ventre e a falta de homens, para pensar em algo para expulsa-lo. Tentou vários métodos, os quais, esse narrador que vus fala não interessa detalhar, mas os efeitos logo começaram a aparecer. Uma forte contração foi o anuncio, deitou no canto do quarto que alugara com o dinheiro guardado dos poucos trabalhos que fez na vida e, sentiu mais algumas contrações. Era uma garota de 16 anos expulsando um ser de 4 meses, verdadeiramente era uma batalha de jovialidade.

            XY dentro de seu ventre, poderia ser um dos seres mais geniosos do mundo de sua mãe, nem nasceu e já tinha poder de decisão, decidiu dês daquele momento em que sua mãe sentou no canto do quarto, que não sairia dali e que não nasceria naquele momento. Foi uma decisão genial, e trágica para aquela mulher. O não de XY já avia sido emanado através da garganta de sua mãe, seguido de um “Ai” gutural. A menina em desespero dizia pra si mesmo gritando: – Sai de mim, sai de mim... sai... – E o não permanecia ecoando pelo quarto. Amigos, esta mulher que até então teria dito um não ao seu futuro filho, não contara com outro NÃO em resposta. A resposta de XY foi tão poderoso, tão verdadeira, tão decidida, que lhe fez negar a própria vida e a da mãe.

            X foi encontrada dois dias depois, no mesmo canto do quarto em que amaldiçoadamente, na vida, profanou o seu primeiro NÃO.




Darlan Delarge